Sem experiência, sem chance: como empresas estão fechando portas para talentos e travando seu próprio crescimento



No Brasil e em diversas partes do mundo, é cada vez mais comum encontrar anúncios de vagas para funções básicas exigindo experiência prévia. Mesmo em cargos como atendente, auxiliar de serviços gerais ou operador de caixa, muitas empresas colocam como requisito algo que, à primeira vista, parece contraditório: já ter feito exatamente aquilo que se propõe a ensinar.

Essa prática, embora pareça garantir mais eficiência na contratação, está afastando potenciais talentos, perpetuando desigualdades e, em última instância, limitando o crescimento dos próprios negócios.

📉 Mas até que ponto exigir experiência para funções simples é realmente vantajoso? E mais: o que as empresas estão perdendo ao adotar esse filtro rigoroso?


O paradoxo da “experiência obrigatória”

Muitos jovens que buscam o primeiro emprego enfrentam um dilema clássico: como conseguir experiência se ninguém dá a primeira chance?

O cenário se torna ainda mais frustrante quando vagas de baixa complexidade, que poderiam servir como porta de entrada no mercado, são fechadas para quem ainda não tem vivência profissional. Isso cria um ciclo vicioso, que prejudica sobretudo:

Jovens entre 16 e 24 anos, especialmente em regiões periféricas
Profissionais em transição de carreira, buscando novas oportunidades
Mulheres que ficaram afastadas por licença maternidade
Trabalhadores com mais idade, que enfrentam resistência no retorno ao mercado


Impactos diretos nas empresas

Ao restringir o acesso com o critério da experiência, as empresas podem estar minando o próprio crescimento. Veja por quê:

🔍 Redução da diversidade de perfis: colaboradores com vivências diferentes trazem ideias novas, ajudando na inovação

🚪 Aumento da rotatividade: profissionais já experientes tendem a trocar de emprego com mais frequência, o que gera custos extras de treinamento e integração

🧠 Perda de talentos com alta capacidade de aprendizado: muitas vezes, alguém sem experiência formal aprende mais rápido que quem já está viciado em métodos antigos

📊 Limitação no desenvolvimento de líderes internos: negar oportunidades a iniciantes impede que novos talentos cresçam dentro da própria empresa


O custo da exigência: números que mostram o problema

Um estudo da Fundação Dom Cabral aponta que 40% das empresas brasileiras enfrentam dificuldades para preencher cargos operacionais. Muitas vezes, essas vagas ficam abertas por semanas ou até meses — não por falta de candidatos, mas por exigências que não fazem sentido prático.

Já a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/IBGE) indica que o desemprego entre jovens pode ultrapassar 20%, justamente pela falta de oportunidades que aceitem candidatos sem experiência.

Ou seja, temos de um lado empresas reclamando da falta de mão de obra e, do outro, milhões de brasileiros querendo trabalhar, mas barrados por critérios mal aplicados.


Contratar por atitude, treinar por habilidade

Especialistas em RH têm defendido cada vez mais a ideia de contratar pessoas com o perfil comportamental adequado, mesmo que sem experiência, e ensinar a parte técnica no dia a dia.

Essa estratégia traz diversas vantagens:

Maior engajamento dos novos colaboradores
💬 Cultura organizacional mais alinhada desde o início
📈 Desenvolvimento de profissionais mais leais e motivados

Empresas como Magazine Luiza, Natura e iFood já adotam políticas de inclusão e incentivo ao primeiro emprego, com ótimos resultados em produtividade e clima organizacional.


Casos reais: quando dar uma chance transforma histórias

💼 "Eu mandava currículo pra tudo que era vaga de auxiliar de limpeza, mas sempre pediam 6 meses de experiência. Como conseguir isso se ninguém me contratava?", conta Renata Silva, de 28 anos, que conseguiu seu primeiro emprego graças a uma ONG que convenceu um supermercado a dar essa chance.

Hoje, Renata é supervisora de equipe, tem carteira assinada e está cursando administração.

Histórias como a dela mostram que, muitas vezes, o que falta é apenas uma oportunidade real de mostrar valor.


O papel do RH e da liderança

Para mudar esse cenário, as empresas precisam rever seus processos seletivos e eliminar exigências desnecessárias. Algumas ações recomendadas:

📝 Revisar descrições de vagas com foco no que realmente é essencial
👀 Avaliar mais o potencial e o perfil do que apenas o histórico profissional
🤝 Apostar em programas de capacitação interna
📢 Valorizar campanhas de primeiro emprego e inclusão social

O futuro do trabalho exige mais flexibilidade e sensibilidade. Ignorar talentos só porque eles ainda não tiveram a primeira chance é uma miopia que pode custar caro.


Oportunidade de ouro para empresas visionárias

Empresas que investem em quem está começando têm a chance de moldar seus colaboradores do zero, com a cultura e os valores que desejam.

Além disso, isso contribui para:

🌎 Responsabilidade social
🏅 Reputação positiva no mercado
📣 Atração de talentos realmente engajados

É um investimento que vai muito além da produtividade: fortalece o negócio a longo prazo.


Conclusão: menos filtros, mais oportunidades

A exigência de experiência para funções simples precisa ser repensada. Em vez de se basear apenas em históricos profissionais, o mercado de trabalho precisa olhar mais para:

🔹 Potencial de aprendizado
🔹 Perfil comportamental
🔹 Força de vontade e resiliência

O Brasil tem milhões de pessoas prontas para trabalhar. Só precisam de uma oportunidade justa.

E você, que atua na área de seleção ou tem sua própria empresa: será que não está perdendo ótimos profissionais por manter barreiras desnecessárias?

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